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Prevenção das Dependências - Art of Counseling

Prevenção significa: Prevenir, Adiar e Reduzir o abuso de substâncias psicoactivas geradoras dependência crónica, progressiva e fatal.

Prevenção das Dependências - Art of Counseling

Prevenção significa: Prevenir, Adiar e Reduzir o abuso de substâncias psicoactivas geradoras dependência crónica, progressiva e fatal.

Parece que a prevenção sobre o abuso do alcool não está a funcionar. O que é que se pode fazer?

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Cultura que bebe, abusa e encoraja o consumo do alcool, droga legal. Como profissional, trabalho há mais de 30 anos no tratamento das substâncias psicoativas, vulgo drogas considero que o alcool é a droga mais perigosa. Por exemplo, inicia-se o consumo na adolescência, depois os jovens adultos abusam do alcool, o agravamento dos padrões durante a fase adulta e terminam com problemas de abuso e dependência que se prolonga ao longo de 20 anos, 30 e 40 anos. Uma vida inteira expostos aos efeitos negativas na saude fisica e mental - contra o estigma, a vergonha e a negação. A esta dura realidade, acrescentamos os efeitos na familia ( incluindo as crianças), no trabalho, etc. Conheço casos de indivudos com 60 anos que parecem ter 80. Segundo o site do Sicad (2018) calcula-se que existam mais de meio milhão de alcoolicos cronicos em Portugal e segundo novos estudos morrem, em media, por dia, 20 pessoas cujas causas estão directamente relacionado com o alcool. O alcool é uma droga legal que gera imenso sofrimento às pessoas e pode matar.  Os líderes politicos conhecem esta realidade, não só pelo efeito negativo nas pessoas, mas os  custos para o estado são enormes. Todavia, existe tratamento para o abuso e dependência alcoolica, é possivel recuperar, não me refiro somente ao individuo, mas a toda a familia, incluindo as crianças.

A prevenção das dependências começa em casa

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Os jovens são mais afetados pela publicidade ao álcool, revela estudo europeu recente. Segundo este estudo a exposição à publicidade a bebidas alcoólicas tem um enorme impacto no consumo entre os jovens e a autorregulação da industria não funciona. O estudo, em questão, publicado na reputada revista cientifica Addiction alerta para o impacto que o consumo de álcool tem entre os mais jovens e também alerta que o consumo de bebidas alcoólicas é a principal causa de incapacidade ou morte entre os jovens do sexo masculino com idades compreendidas entre os 15 e os 24 anos.

 O resultado deste estudo, vem corroborar outros  portanto não se trata de nenhuma novidade. Todavia, conscientes do problema, quais são as medidas impostas, pelos decisores políticos, que visam travar estes fenómenos? 1. O abuso do álcool, o consumo de bebidas alcoólicas por jovens com idades abaixo do permito por lei e 2. binge drinking (beber bebidas alcoólicas com o intuito de ficar intoxicado) e 3. abuso de bebidas alcoólicas é a principal causa de incapacidade ou morte entre os jovens do sexo masculino.

Quando contemplamos, o abuso de álcool pelos jovens, não o devemos fazer somente através dos reguladores institucionalizados com recurso a leis restritivas. Sabemos que as leis existem, mas também existem formas engenhosas de as contornar. Por exemplo, as marcas de cerveja, anunciam a cerveja sem álcool, todavia, é a fidelização à marca que importa e o lucro das cervejas sem álcool não creio que seja relevante comparativamente à cerveja com álcool. Nas camadas jovens, quem é que bebe cerveja sem álcool? Nos festivais de verão quem é que consome cerveja sem álcool? Nas festas académicas quem é que consome cerveja sem álcool? Na minha opinião, o consumo é residual comparativamente à cerveja com álcool. Para agravar a situação, a cerveja com álcool, neste tipo de eventos, para além de estar disponível em garrafas, também é servida a copos, que torna a venda mais acessível (e mais lucrativa), mesmo para aqueles jovens com fracos recursos financeiros.     

Por outro lado, considero que o problema são o comportamento das pessoas e não o álcool, propriamente dito. O problema não é o álcool. O problema não são as leis, são as pessoas que delineiam estratégias de marketing (publicidade) que visam somente o lucro (economia de mercado), o problema são os decisores políticos que evocam as questões económicas em detrimento das consequências do álcool nas camadas mais jovens, o problema são os media que não fazem investigação e não alertam ( e sensibilizam) a sociedade para as consequências do álcool,  as Instituições de ensino que formam profissionais, sem que estes estejam qualificados para abordar o assunto nas consultas e/ou nas urgências hospitalares e todos nós (sociedade civil) que compactua com esta «velha» tradição, imposta na nossa cultura, associada ao abuso do álcool, por exemplo, nas consultas ouço casos de alguns pais, com filhos de 11 e 13 anos, que afirmam o seguinte: “Os meus filhos já experimentam bebidas alcoólicas, começam a faze-lo em casa na presença dos pais. Por exemplo, numa festa é-lhes permitido, experimentar o álcool, com um gole.”. Contrariamente a este exemplo desafortunado, a prevenção mais eficaz, contra o abuso do álcool, começa em casa.  Infelizmente, o álcool ainda não é encarado como uma droga (substância psicoactiva do sistema nervoso central). Entre outras drogas o álcool é a droga mais perigosa, simplesmente, porque está disponível e porque permanecemos passivos perante todos estes fenómenos acimas referidos. Felizmente, nem todos os jovens abusam do álcool ou recorrem ao binge drinking, mas mesmo assim, a vida dos nossos jovens, mesmo em numero reduzido (refiro me aqueles que apresentam vulnerabilidades associados ao abuso do álcool), são mais importantes que o lucro das empresas e/ou tradições/tendências disfuncionais e retrogradas. É possível ser feliz, sem beber bebidas alcoolicas.

Como não avançamos a tendência é para cristalizar.

Em pleno seculo XXI, a prevenção das drogas em Portugal ainda é um mito.

Considera que a nossa cultura reforça a prevenção das dependências? Na minha opinião, a resposta não é fácil, mas creio haver necessidade de uma revolução, porque as dependências de substâncias psicoactivas licítas, do Sistema Nervoso Central, incluindo o álcool e as ilícitas, são uma epidemia e representam um problema de saúde pública com custos elevadíssimos. Caso não se tomem as devidas precauções a tendência é para se agravar visto negarmos esta realidade. E enquanto for negada vai assumindo proporções epidémicas. Só para se ter uma ideia, o álcool é a droga mais perigosa, comparativamente a todos as outras, porque é aceite socialmente.

Segundo Edward B. Tylor cultura é «Aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e capacidades adquiridos pelo homem como membro da sociedade.» A sociedade somos nós.

 

O fenómeno tende a alastrar-se

Desde o princípio dos anos 80, após a revolução do 25 de Abril de 1974, não existe uma política que contemple um plano de prevenção das dependências direccionado para os jovens, pais e escolas. Não existe uma cultura de investigadores, de educadores, de instituições e profissionais e de pais que assumam um compromisso sobre a prevenção. Outra situação idêntica, educação sexual inexistente nas escolas. Se o ser humano pratica sexo há milhares de anos, qual é o problema abordar o tema abertamente? São os mitos? Os preconceitos? Ou outra razão que eu desconheça? O mesmo acontece com o álcool e outras drogas. Se o ser humano sempre consumiu drogas, desde os primórdios da humanidade, qual é o problema em abordar o tema abertamente?

 

Se o ser humano sempre consumiu drogas, a partir dos anos 60, este fenómeno assumiu proporções epidémicas em todo o mundo. O mundo das drogas (produção, trafico, consumo e a dependência) é complexo, mas também precisamos de admitir que o contexto social tem sido terreno fértil para a sua propagação. Existe uma cultura (moda) que procura sensações fortes de prazer e bem-estar a fim de descomprimir das tensões, do tédio e que visa acabar com o sofrimento através de drogas, incluindo a auto medicação, substâncias sujeitas a prescrição medica (por exemplo, os ansiolíticos). Existem drogas diferentes para todos os tipos de preferências, tendências, contextos e estatuto sociais, a procura supera a oferta; estão criadas as condições para um negócio lucrativo. O tráfico, o consumo ocasional, o abuso e a dependência são uma indústria com lucros muito significativos.Estima-se em 160 mil milhões de dólares, oriundos do narcotráfico, anualmente lavados na banca internacional. O negócio global de muitos milhões de dólares, dinheiro sujo das drogas, é constituído por um sem número de parceiros, interesses e «fiéis» colaboradores que ajudam a sustentar a economia global. É um círculo vicioso.

 

 

 

Conduzir sob o efeito do álcool e as vitimas inocentes

Sabia que a condução sob o efeito de álcool e/ou outras drogas pode transformar a viatura numa arma letal com consequências trágicas e com vitimas inocentes.

Veja este video controverso, sobre um individuo que afirma ter morto uma pessoa enquanto conduzia o seu carro sob o efeito do álcool. 

Noticias 2013

28/12/13 «428 pessoas detidas por excesso de alcool na epoca do natal.»

05/08/13 " Político responde por homicídio negligente e condução sob o efeito de álcool num acidente que causou a morte de um jovem de 19 anos" 

06/08/13 "Mais de cem condutores com alcool a mais. A GNR deteve no domingo 136 condutores com excesso de alcool."

27/08/13 "68 condutores detidos com excesso de alcool. GNR deteve, no fim de semana, (...) 68 detenções a individuos que conduziam sob o efeito do alcool."

24/09/13 "1390 detenções na Operação Verão Seguro. (...) entre 15 de agosto e 15 de setembro, 620 das quais por excesso de álcool (...)."

 

Partilhe este video pelos seus contatos de forma a chegar ao maior numero de pessoas a fim de sensibilizar para este tipo de tragédia.

Evidência cientifica reforça a necessidade de medidas preventivas

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS) 25 e 50% das pessoas podem ter sido abusadas fisicamente durante a sua infância. Uma experiência definida como o uso da força física que prejudica a saúde da criança, a sobrevivência, o seu desenvolvimento ou dignidade. Maus tratos na infância não se restringem somente ao abuso físico, as crianças também podem ser emocional ou sexualmente abusadas ou negligenciadas e essas experiências podem ter implicações serias e duradouras para a saúde do adulto.

A associação entre o abuso sexual infantil e problemas de saúde psicológica na vida adulta actualmente já estão documentadas e confirmadas. No entanto, os resultados na saúde da criança sobre o impacto da exposição aos maus tratos, não sexuais (abuso físico, emocional e negligência), a longo prazo, não têm sido sistematicamente examinados.

 

No ano passado, uma revisão sistemática e meta-análise publicada na PLoS Medicine (Norman e colegas, 2012) facultou um melhor entendimento sobre a associação entre a exposição ao abuso físico, abuso emocional e negligência na infância, os resultados de saúde física e mental mais tarde na vida adulta.

 

Abuso físico, abuso emocional e negligência são normalmente ligados a efeitos na saúde física e mental

Crianças emocionalmente abusadas apresentaram um risco três vezes maior de desenvolver doença mental – depressão e ansiedade. Efeitos idênticas de maus tratos à criança (não-sexuais) apresentam um risco significativo de desenvolverem perturbações do comportamentos alimentar, uso de drogas e álcool e comportamento suicida.

 

O único resultado, na saúde física, para o qual existe uma forte evidência de uma associação aos maus tratos (não sexuais) à criança é o das doenças sexualmente transmissíveis e/ ou comportamentos de risco associado ao sexo. Estes resultados foram cerca de 1,7 vezes mais prováveis em pessoas com uma história de abuso.

A evidência para uma associação com doenças crónicas, como o acidente vascular cerebral, a obesidade, a artrite e dor de cabeça / enxaqueca era fraco e inconsistente.

 

Norman RE, Byambaa M, De R, Butchart A, Scott J, et al. (2012) The Long-Term Health Consequences of Child Physical Abuse, Emotional Abuse, and Neglect: A Systematic Review and Meta-Analysis. PLoS Med 9(11): e1001349. doi:10.1371/journal.pmed.1001349

Andrews et al (2004) Child sexual abuse. In Comparative quantification of health risks: global and regional burden of disease attributable to selected major risk factors (PDF) (Ezzati et al, editors). WHO, Geneva; pp 1851-1940

 

Comentário: De acordo com os dados da Organização Mundial de Saúde sobre o numero de crianças abusadas e negligenciadas, são preocupantes visto representarem um custo muito elevado (Estado) e perda da qualidade de vida (doença, crise, acidentes, dor e sofrimento etc). Apesar de, em Portugal  o numero de jovens que consomem e  abusam de drogas, incluindo o álcool, ao longo das suas vidas, não ser generalizado, isso não significa que não seja prioritário um plano nacional de prevenção das dependências;  nicotina, canábis,  álcool (qualquer bebida com teor alcoólico). De acordo com o ultimo inquérito (2007) o alto grau de dependência afeta 10% dos fumadores, sendo a motivação para parar de fumar reduzida  (85,5% dos fumadores). Por outro lado, assistimos impotentes ao aparecimento de novas drogas, senão vejamos, após o recente decreto que proíbe a venda de drogas nas smartshops já surgiram seis novas substâncias psicoativas. O cánabis é a drogas mais consumida entre os jovens. Nos últimos anos têm surgido mais pedidos de ajuda a jovens que desenvolvem comportamentos problemáticos associados ao consumo excessivo de cánabis (psicoses, abstenção e redução do aproveitamento escolar, impulsividade, depressão, perda da memoria e concentração).

Apesar de o estudo realizado pela CESNOVA (Centro de Estudos de Sociologia da Universidade Nova de Lisboa) revelar que o consumo generalizado, sobre a prevalência de embriaguez ter caído, é do conhecimento geral, que os jovens, alguns menores de idade, desenvolvem uma cultura de divertimento muito forte associada ao abuso do alcool (Binge Drinking) cujo intuito é a embriaguez; por exemplo as queimas, os espectáculos de musica e as saídas à noite.

Podemos concluir, depois do estudo da OMS, que as crianças que tenham sofrido qualquer tipo de abuso (emocional, físico e sexual) e negligência parental estão em risco de desenvolverem comportamentos de alto risco associado ao álcool e/outras drogas e perturbação do comportamento alimentar.

Siga o link da Organização Mundia de Saude

http://www.who.int/mediacentre/factsheets/fs150/en/index.html

Onde é que ficamos? Qual é afinal a realidade? Decida você

 

“Governo recua e distingue vinho e cerveja das bebidas espirituosas. Nova lei proíbe álcool de teor elevado a menores mas mantém os 16 anos para bebidas “leves”. Associação de bebidas e peritos falam em cedência a lóbis. A diferenciação dos limites etários – 16 e 18 anos- consoante o teor de álcool, definida no novo diploma, aprovado, no dia 21/2/13, pelo Conselho de Ministros, veio defraudar entidades ouvidas durante a elaboração da lei para o consumo do álcool. É conhecida a posição de Pires de Lima contra a proposta da proibição alargada aos 18 anos. Pires de Lima é o presidente da Associação de Produtores de Cerveja e também presidente da mesa do conselho nacional do CDS-PP.  ” Lê se na notícia do Jornal de Notícias de 22/2/13. Podemos acrescentar na mesma notícia, segundo o secretário de Estado adjunto da Saúde “(…) a medida tenciona sobretudo impedir a embriaguez dos jovens.” Jornal de Noticias, 22/2/13. Esta é a versão dos políticos, dos interesses da Industria do Alcool (lobbies) e que contam com a conivência dos órgãos da comunicação social, sobre o problema de saúde pública relacionado com o álcool.

 

Repito mais uma vez, visto ter publicado já este facto no blogue, você sabia que existem um milhão e meio de pessoas que bebe em excesso e metade delas é alcoólica, em Portugal? No artigo do JN, para espanto de todos aqueles que trabalham nesta área e ou das famílias, incluindo as crianças afectadas pelo álcool, o jornalista ainda refere na notícia, “bebidas leves.” Apesar dos média teimarem em confundir a opinião pública e alimentar mitos, não existe este conceito “bebidas leves” quando sabemos o álcool é uma droga psicoactiva.

 

 

 

Vale a pena mudar ou permanecer cristalizados e impotentes?

Noticia no Jornal de Noticias de 30/12/12: “Portugueses devem prevenir doenças para ajudar SNS”

O atual Secretario do Estado da Saúde considera que “ os portugueses têm a obrigação de contribuir para a sustentabilidade do Serviço Nacional de Saúde prevenindo doenças e recorrendo menos aos serviços.” Ainda na mesma notícia referia, e é esta a parte que mais interessa, visto contemplar a questão da prevenção das dependências, “Os problemas ligados ao tabaco, ao álcool e à diabetes tipo 2 (que é prevenível) representam um encargo para o Estado de cerca de 800 milhões de euros. O tabaco custa 500 milhões, o álcool 200 milhões e a diabetes 100 milhões, só em medicamentos. Na prevenção, os ministérios da Saúde e da Educação vão promover um campanha nacional nas escolas para alertar para os malefícios do tabaco, álcool e novas drogas. Em relação ao álcool, o Governo prepara-se para apresentar legislação que limita a venda de bebidas alcoólicas a maiores de 18 anos e que restringe a sua comercialização em bombas de gasolina ou lojas de conveniência durante o período noturno.”

 

Evitando entrar nas questões políticas e dos partidos, mas aproveitando o discurso do senhor secretário do estado, aproveito para abordar, mais uma vez, a inexistência de políticas nacionais que contemplam a Prevenção das Dependências. Segundo os números avançados pelo senhor secretário do estado, em relação aos custos para o Estado, quanto ao tabaco (500 milhões), álcool (200 milhões) onde não faz qualquer referência dos encargos relacionados com as drogas ilícitas, por exemplo as drogas ditas “leves”, posso concluir, mais uma vez pelas palavras do senhor secretario do estado que todos os esforços em relação à politica nacional da prevenção das dependências em Portugal ou são inexistentes visto não haver uma avaliação concreta ou não estão a dar resultados ou mais preocupante não existe. Esta realidade já é uma herança amarga de dezenas de anos, visto não haver vontade politica para mudar; a prevenção nunca funcionou e não funciona com campanhas nas escolas. A prevenção faz-se antes, durante, após o nascimento e ao longo da vida, como sabemos ninguém nasce com um manual de “boas praticas”, neste mundo em constante “alvoroço” e perigoso para algumas crianças vulneráveis.

De acordo com estudos, nos EUA, cada dólar investido na prevenção poupa-se sete dólares no tratamento e vinte e um dólares em serviços sociais. Então se poupa com a prevenção do que é que estamos à espera?

 

 

 

O problema é grave, a tendência é para piorar, mas negamos as evidências

Jornal de Noticias, de 18/8/2012

O Jornal de Notícias, na sua edição de 18 de Agosto, 2012, convidou sete personalidades para a participarem num painel sobre três questões relacionadas com a saúde em Portugal, todavia, vou somente selecionar a primeira porque é aquela que está diretamente relacionada com o tema da Prevenção das Dependências:

 

Sociedade: Painel/ Tomar o pulso ao país” - Portugal é o terceiro maior consumidor de álcool da OCDE. Que consequências?”

 “Saúde: Portugal no pódio do consumo do álcool. Apesar dos números revelarem uma ligeira queda face aos últimos anos, Portugal mantém-se no pódio dos maiores consumidores de álcool do Mundo – 12,2 gramas per capita, a apenas uma décima de grama da França e empatado com a Áustria (números da OCDE). E há ainda a agravante de as estatísticas não incluírem o vinho produzido para consumo próprio. Sermos produtores de muitos e bons vinhos não justifica tudo. Sociavelmente, o álcool continua a ser um passaporte para um estilo “descontraído” e recebe um consentimento benevolente dentro das famílias e instituições. O crescimento das bebedeiras selvagens (botellón) aos fins-de-semana, entre os jovens mostram como as coisas estão a piorar ainda mais. Questão: Quem paga a factura? Quais são as consequências físicas e sociais? Eis uma chaga que nenhum Governo consegue sarar.” Jornal de Noticia.

 

1.       Portugal é o terceiro maior consumidor de álcool da OCDE. Que consequências?


  • António Ferreira - Presidente do Conselho de Administração do Hospital de S. João.

Resposta: “A) Desagregação e violência familiar; B) Exclusão social; C) Agravamento do estado de saúde e desqualificação da população, diminuição da produtividade, etc”

  • Isabel Vaz - Presidente da Comissão Executiva da Espirito Santo Saúde.

Resposta: “É um problema de saúde pública muito relevante pelas consequências sociais, da despesa e por ser um factor de risco de doenças cardiovasculares e hepáticas.”

  • Manuel Antunes - Cirurgião Cardiotorácico e Professor da Universidade de Coimbra.

Resposta: “Infelizmente, o consumo excessivo de álcool é bem tolerado, até aceite, no nosso país. O impacto na saúde, praticamente em todos os órgãos, é devastador, também com consequências económicas e sociais muito grandes.”

  • Maurício Barbosa - Bastonário da Ordem os Farmacêuticos.

Resposta: “ É muito preocupante, mais ainda a triste incidência em jovens de menor de idade. As consequências são péssimas para os próprios, as famílias e a sociedade. Os inevitáveis problemas de saúde refletem-se em menor qualidade de vida e em menor produtividade e conduzem inexoravelmente a mais despesa em cuidados de saúde. Os índices elevados de acidentes de trabalho, de viação, etc., e de violência também se correlacionam com o alcoolismo.

  • Nuno Sousa - Diretor do Curso de Medicina da Universidade do Minho.

Resposta: “Nefasta para a saúde. Claramente a carecer de uma campanha de educação.”

  • Paulo Mendo - Antigo Ministro da Saúde.

 Resposta: É um grave problema de saúde pública, responsável por milhares de casos de doenças crónicas de cura difícil e tratamento muito caro. Pior (ou melhor), a cultura milenar do nosso povo aceita e tolera esta praga!”

  • Purificação Tavares -CEO da CGC Genetics.

Resposta: “Os hábitos de população e os estilos de vida favorecem este consumo, pelo que deveria haver preocupação e contenção com a publicidade a bebidas alcoólicas, assim como colocar esta tónica no sistema educativo.”

 

Comentário: O álcool (etílico) é uma droga, depressora do sistema nervoso central, e é das substâncias psicoactivas, geradoras de dependência, mais consumidas no mundo, com a agravante de ser a mais perigosa. O álcool afecta a forma como o individuo pensa, sente e age.

De acordo com vários estudos, efetuados nos EUA, se os problemas com o álcool persistirem  o individuo alcoólico poderá morrer  15 anos mais cedo do que a idade media de morte da população em geral. As principais causas de morte são ataque cardíaco, cancro, acidentes e suicídio, embora também possa detetar doenças do fígado; cirrose.

 

Outra serie de estudos, efetuados nos EUA e na  Escandinavia, estabeleceram a importância de fatores genéticos na génese do alcoolismo e demonstraram que os filhos de pais biológicos alcoólicos, que deles foram separados quando crianças, cresceram com pais adoptivos, e sem qualquer conhecimento dos pais biológicos, apresentaram taxas muito elevadas de alcoolismo.

 

Outros estudos revelam que entre filhos de pais alcoólicos, um baixo nível de sensibilidade ao álcool resultou num risco de 60% de alcoolismo 10 anos mais tarde, enquanto a elevada sensibilidade ao álcool resultou apenas num risco de apenas 15%. A reação a doses moderadas de álcool possa dificultar aos filhos de alcoólicos o recurso às suas próprias sensações, depois de beberem, para decidirem o momento em que devem parar de beber. Estes estudos servem para sublinhar as possíveis componentes genéticas e biológicas do alcoolismo. Os dados recentes mais fiáveis indicam que o alcoolismo é uma perturbação geneticamente influenciada com uma taxa de hereditariedade, semelhante aos diabetes. Isto é, existe a possibilidade de o alcoolismo passar de geração para geração (pais para filhos)[i]

 

Todos nós sabemos que o abuso do álcool e do alcoolismo é um problema de saúde gravíssimo, mas dado à sua complexidade (epidemiologia e da etiologia, e os efeitos sociais) vivemos uma cultura de negação associado às consequências e aos efeitos trágicos do abuso do álcool, do alcoolismo no individuo, na família, incluindo as crianças, e os custos para o estado. Li algures que existem um milhão de bebedores problemáticos e 800.000 indivíduos alcoólicos, se juntarmos a estes dados, as suas famílias, incluindo as crianças, mais os jovens adolescentes que recorrem um binge drinking (abusar do álcool cujo intuito é a intoxicação/embriaguez), as despesas de saúde e as despesas para o estado, os acidentes e o suicídio, mesmo assim, apesar das evidências e do agravamento do fenómeno, todos nós, continuamos a abordar o problema de saúde pública, do abuso do álcool e do alcoolismo, como se estivéssemos a discutir o problema do vizinho ou como se não tivéssemos nada a ver com isso, atitude que designo de estigma e  negação.  

 

Para se ter uma noção da gravidade do problema, creio ser comum encontrar na maioria das famílias portuguesas, um caso de um individuo (membro da família, por exemplo; avô, pai, primo, tia, avó, mãe, irmã ou irmão) que tenha sido afetado pelos problemas associados ao álcool, no passado ou no presente; de realçar que o alcoolismo pode passar de geração em geração.

 

De acordo com os estudos científicos, na maioria dos países civilizados, incluindo a Organização Mundial de Saúde é urgente investir com compromisso na educação, na prevenção junto das populações e no tratamento do abuso e do alcoolismo, todavia, os interesses económicos e os lobbies acabam por ditar as regras, em detrimento da saúde das pessoas, incluindo as crianças, com o consentimento dos decisores políticos. Por outro lado, observo há vários anos, nos meios de comunicação social, de acordo com os sucessivos governos, promessas onde os políticos afirmam que a lei da venda e consumo do álcool vai ser alterada, mas mantém-se inalterável; somos o único país da EU a permitir a venda e o consumo de bebidas alcoólicas a menores de idade. Aparentemente, existe um certo laxismo e desinteresse na investigação jornalística, na legislação, na politica sobre este assunto complexo e trágico que afeta milhares de portugueses, incluindo as crianças, e passo a citar o jornalista do JN “Eis uma chaga que nenhum Governo consegue sarar “. Pergunto; se é considerado uma “chaga”, porquê teimamos em negar a tragedia humana e os custos económicos e sociais? Na minha opinião, a dita “chaga” nunca será eliminada, pelos decisores políticos, visto haver outros interesses mais importantes que os direitos humanos e o direito à saúde, incluindo as crianças.

 

À data deste post ainda somos um país que permite e promove o consumo e o abuso de bebidas alcoólicas a jovens menores de idade, estando assim a contribuir e para o agravamento para o problema de saúde pública.

 

Esta questão é um dos motivos pela qual justifico a existência e a minha dedicação a este blogue – Prevenção das Dependências.

 

 

 

 

 



[i]  “Abuso de alcool e drogas” Marc A. Schuckit - Climepsi Editores

Guerra sem fim à vista

“A actual estratégia internacional de controlo das drogas, cujo objetivo central visa um mundo livre de drogas, tem sido implementada no terreno, quase exclusivamente, através do recurso a ações policiais e a sanções criminais. Todavia, através de estudos recentes, revelam, que esta estratégia falhou nos seus intentos. Embora o efeito nocivo das drogas, nas vidas das pessoas e na sociedade, esta estratégia revela-se, excessivamente punitiva e não foi alcançada, em termos dos objetivos da saúde pública e tem contribuído para inúmeras violações dos diretos humanos.”

  • Anand Grover, comissario das Nações Unidas para os direitos humanos

 

 

 

Sabia que a declaração da “Guerra contra as Drogas” foi anunciada pelo Presidente norte-americano Richard Nixon, em 1971? Passado 41 anos ainda não prevê um fim para a dita “Guerra contra as drogas”, pelo contrário, é um fenómeno universal que veio para ficar, do qual, todos nós, teremos que repensar sobre uma diferente estratégia.

 

O problema das drogas lícitas, incluindo o alcool e os fármacos, e ilícitas é um problema transversal na sociedade portuguesa. Na minha opinião, Portugal não possui um enquadramento, a convicção e o compromisso politico, cívico, jurídico e da saúde pública capaz de promover uma estratégia, de forma a lidar com os efeitos negativos das drogas lícitas e/ou ilícitas, assim como ser capaz de potenciar um reflexão publica profunda sobre as medidas que pretendemos adotar para o nosso país. Pelo contrário, existe um certo marasmo generalizado. Por exemplo, em relação ao abuso do álcool e do alcoolismo, em pleno seculo XXI, num artigo do Diário de Noticias, de 30/6/12, referia que 70% da população de Barcelos, com idade inferior a 50 anos, é afetada pelo alcoolismo. Considero que os jovens e as famílias portuguesas precisam, urgentemente, de um sistema político com o qual depositem confiança e esperança na luta contra este tipo de epidemia: O problema das drogas licitas, incluindo o álcool, e/ou ilícitas não acontece só aos outros.

 

 

 

Pedidos de ajuda: Quebrar o estigma, a negação e a vergonha

Alguns pedidos de ajuda que recebo por email. Todos os dados das pessoas envolvidas, nestas histórias reais, foram modificados de forma a manter o sigilo completo. Respondo a todos os pedidos de ajuda.

 

1. “Boa tarde, chamo me T. Hoje durante a hora de almoço deparei-me com o seu blogue e gostaria de saber se pode prestar apoio.

 Resumindo, o meu filho, de 16 anos, por uma questão de alguma baixa estima (provocada por uma limitação física), talvez por não ter tido o acompanhamento paterno que deveria e talvez também por uma questão de fragilidade da própria personalidade, começou a consumir marijuana.

Sei que não é todos os dias, sei que não é em grandes quantidades, mas tem todos os indícios de já ter apanhado o vício. Tem um grupinho de colegas da escola que também fumam. Jura que nunca irá para as drogas mais fortes, mas a verdade, é que cada vez noto-o com mais necessidade de sair de casa, depois do jantar, para estar com o grupo de amigos. Já falei, montes de vezes, com ele, já o chamei à razão, ele diz-me que faz menos mal que o tabaco normal, e para eu estar descansada que ele sabe controlar-se.

Tentei proibi-lo de sair, mas ele ficou muito revoltado. Mais tarde, pediu desculpa, dizendo que não é o filho que eu gostava que ele fosse. Conheço bem o meu filho, é um miúdo sensível, muito amigo do seu amigo, e isso também o torna um bocado influenciável.

Não sei muito bem como atuar, sinto que tenho de manter um equilíbrio entre o coração e a razão, tenho tentado fazer isso, mas também penso que se o proibir de estar com os amigos, vou perder uma grande parte da sua confiança, até porque alguns deles são colegas de turma. Neste momento, fumar umas ganzas é tão natural, como na minha adolescência, fumar cigarros normais.

Gostaria de um conselho. Agradecida”

 

2. “Chamo me A. e o acaso quis que abrisse o seu blogue sobre a prevenção das dependências. Sou professora e a grande maioria dos meus alunos apresentam comportamentos desviantes tendo já um percurso de vida bastante atribulado, uns institucionalizados, outros com historiais de consumos e pequenos furtos, e claro, todos em situação de abandono escolar. Gostaria de saber qual a possibilidade e disponibilidade de uma intervenção sua junto das nossas turmas. Atenciosamente."

 

3. Chamo me P. e tenho um filho adicto que consome drogas desde os 12, actualmente tem 36 anos. Já fiz de tudo para o ajudar, mas ao fim de um determinado tempo, acaba por recair, e consequentemente, também sinto na “pele” as consequências negativas da sua adicção, visto ele viver comigo. Já estou cansada de abordar o assunto, onde ele, inclusive, já perdeu a família, incluindo três filhos, dos quais não pode contactar, por decisão judicial. Não sei mais o que fazer. Por favor ajude-me. Obrigada"

 

4. Olá meu nome é C. e há um mês descobri que meu filho, de 14 anos, está dependente de drogas. Foge de casa, quando regressa, é um farrapo. Chora imenso e pede ajuda para o problema das drogas, mas quando estamos dispostos a ajuda-lo, ele afirma que não quer ajuda. Como ele não tem recursos financeiros próprios, decidiu-se pelo tráfico para consumir, ou seja não sei mais o que faço. Devo coloca-lo num colégio interno para afastá-lo da droga? Uma vez que ele é menor de idade e não tem poder de decisão sobre si.

 Aguardo sua opinião, Obrigada”

 

5. “Chamo-me R. sou estudante de um curso de nível 4 na área das toxicodependências. Neste momento estou a fazer o estágio numa instituição que está interessada em participar na Acção Europeia sobre a Droga (EAD), nesse sentido, terei que propor um tema na área da prevenção. Andei a pesquisar na Internet e descobri o seu blogue, gostaria de saber se pode facultar informação específica sobre prevenção primária para escolas do 1º e 2ºciclo. Encontro imensa informação, mas como sabe, é excessiva e não é muito explícita. Se puder ajudar, agradecia imenso, visto este trabalho ter um significado muito importante, visto tratar-se do estágio curricular. 
Obrigada pela atenção, com os melhores cumprimentos”

 

Comentário: O motivo da publicação, deste pedidos de ajuda, no blogue é unicamente, quebrar o estigma, a negação e a vergonha associados às dependências de substâncias psicoactivas lícitas, incluindo o álcool, e/ou ilícitas. Portugal precisa, urgentemente, de uma cultura, ativa e diferente, que previna as dependências, atualmente, não existe prevenção.

Gostaria de alertar para a cultura que bebe, que reforça e promove o consumo de bebidas alcoólicas entre jovens menores de idade. Por exemplo, até à data deste post, Portugal é o único país da União Europeia, onde é permitido a venda e o consumo de bebidas alcoólicas a menores de idade. Sabia que o abuso do álcool e o alcoolismo são um problema de saúde pública? Sabia que o álcool é a substâncias psicoactiva mais perigosa?

Você tem filhos? Já falou com eles sobre o consumo de bebidas alcoólicas? Já abordou o tema das drogas ilícitas? Já abordou os riscos do abuso (binge drinking – consumo excessivo de bebidas alcoólicas cujo intuito é a intoxicação /embriaguez) e do alcoolismo. Se você não o fizer outras pessoas fazem por si. Você tem alguém na sua família com problemas associados ao abuso do álcool e/ou do alcoolismo ou drogas ilícitas? Se a resposta for sim, mais uma razão forte para abordar o assunto em família, incluindo os jovens. Promova a comunicação, na família, que ajude a quebrar os tabu e  os mitos associados às drogas lícitas e/ou ilícitas.

Importante: Caso você esteja interessada/o em ver esclarecido algumas questão em relação à prevenção das dependências envie um email. Todos os dados pessoais confidenciais

 

Caso esteja interessado/a sobre a realidade portuguesa e as drogas. Siga o link

 

 http://www.emcdda.europa.eu/publications/country-overviews/pt